quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Como parar de fumar - Como consegui largar o cigarro

Fumava 2 maços de cigarro por dia, tendo começado aos 17 anos de idade. Parei de fumar duas vezes, sendo que esta segunda foi a última, o que dura já tem bem mais de cinco anos. Neste post, vou explicar direitinho como consegui deixar de fumar, mas já aviso: não foi fácil.

Quando parei de fumar pela primeira vez


Na primeira vez que parei de fumar, para começar me cerquei de todas as informações necessárias. Fui à biblioteca e peguei livros, li blogs e relatos, tudo o que precisava era de motivação, estímulo, saber que se os outros conseguiram, eu conseguiria também. Mais do que isto: eu precisava me convencer que devia parar de fumar. Precisava criar em mim a vontade de parar de fumar, porque, para ser sincera, nem vontade eu tinha, o que complica bem mais as coisas.

Até então, já tinha tentado reduzir o número de cigarros por dia, mas nunca tinha parado de fumar. Aliás, nunca nem tinha passado pela minha cabeça parar de fumar, por que pararia, se fumar me dava tanto prazer? Mas de repente quis parar, inclusive para saber como era parar de fumar, e se eu conseguiria. É que um vício, por mais que seja prazeroso, também cansa. Cansa ser escravo, seja do que for, e eu era escrava do cigarro, completamente. Não era do tipo de pessoa que diz «Fumo há dez anos e até hoje não viciei!», rs, eu tinha consciência que era viciada no cigarro. Até acho que, se eu conseguisse fumar pouco, talvez nunca nem teria pensado em parar de fumar, mas eu sabia que, ano após ano, estava sempre fumando mais, sempre precisando de mais cigarros, perdendo completamente o controle, chegando a ter vários maços de cigarros abertos espalhados pela casa. Um dia vi a J. K. Rowling, autora do Harry Potter, dizendo que, entre fumar um cigarro e entre fumar um maço inteiro, ela fumaria um maço inteiro, e então como ela não conseguiria fumar um cigarro só, decidiu parar de fumar.

Assim que me cerquei de informações, decidi parar. E a decisão acabava por ser sempre para amanhã, para segunda-feira, para depois daquela prova, para a seguir àquela festa. De repente, eu acabava o jantar, e lá estava com o cigarro na boca, quando de manhã tinha acordado a dizer que não fumaria.

Aí não teve jeito, tive que tomar uma atitude drástica comigo mesma: peguei todos os meus cigarros e joguei dentro de uma bacia com água. Fiquei morrendo de nojo de ver o cigarro se desfazendo na água, e desde então fiquei uns dois anos sem fumar.

Os primeiros dias sem fumar


Os primeiros dias sem fumar são os mais terríveis. Depois que joguei os meus cigarros dentro da bacia com água, não tinha mais jeito, eu tinha mesmo que parar de fumar. 

Eu parecia uma louca. A vontade que tinha era de bater com a cabeça na parede, até sangrar. Por momentos, me sentia orgulhosa por estar já há tanto tempo sem fumar, mas, quando olhava no relógio, afinal só tinha passado meia hora. Eu, que já era ansiosa, sentia a ansiedade aumentar cada vez mais. Se tivesse uma camisa de força, eu vestia, só para estar presa e não conseguir ir a um bar comprar um maço de cigarros, nem abrir o maço, nem acender o cigarro. Mas eu tinha que conseguir, com ou sem camisa de força, e cada hora que passava era uma tortura, mas enfim consegui ir dormir, passando um (difícil!) dia inteiro sem fumar. Fui dormir mais cedo.

Cada dia foi profundamente difícil sem o cigarro. Não estava apenas mais ansiosa, mas a minha irritabilidade também tinha aumentado bastante, logo eu, que antes era tão calminha com um cigarro aceso na mão. Tudo, de repente, passava a me irritar fácil, e os dias, que antes passavam voando, começavam a travar, como um pesadelo que parecia não acabar nunca.

Não era só um dia de cada vez, era um segundo de cada vez, porque cada segundo parecia demorar uma eternidade para passar. Eternidades depois, consegui passar 3 dias sem fumar, depois uma semana, e passada a primeira semana que senti um desespero menor, como se enfim eu já não ficasse tão aflita como antes.

A vontade de fumar não passou, nem passados meses, nem passado o primeiro ano. Tive que lidar com essa luta diariamente.

A recaída: quando fiz a besteira de voltar a fumar


Minha mãe também é uma ex-fumante, e ela me contava que, quando parou de fumar, por várias vezes teve pesadelos de que tinha voltado a fumar, e eu tive esses pesadelos também, e era um desespero enorme, depois de tanto tempo sem fumar, ver-se fumando novamente, mesmo que em sonho.

Ter parado de fumar causou várias reações em mim. A primeira delas foi a minha irritabilidade, eu ficava irritada com qualquer coisa, e já não tinha o meu calmante entre os dedos. Havia todo um costume, todo um hábito, uma série de momentos em que o cigarro estava comigo, em que fazia parte da minha rotina, e de repente a mudança era muito grande para não percebê-la. De repente, mesmo de forma não muito consciente, desenvolveu-se uma revolta dentro de mim, como se fosse uma revolta com as pessoas que fumavam, uma espécie de inveja por elas poderem fumar ou não. Claro que eu também podia fumar, mas eu tinha dito para mim mesma que não fumaria, mas o fazia como se estivesse de castigo, como se fosse uma espécie de tortura que estivesse me auto-impingindo. Passei a me odiar, passei a ser a megera que me tirava o que eu queria. Eu não conseguia ver o ato de parar de fumar como algo bom para mim, mas como um castigo, uma maldade, e isso dificultava mais ainda a situação. Além disso, comecei a ter um tremendo nojo das pessoas que fumavam, tinha me transformado naquele tipo de pessoa chata que parou de fumar e que queria obrigar todo mundo à volta a parar de fumar também, e estranhamente tinha uma vontade fortíssima de vomitar sempre que alguém fumava à minha frente, ou mesmo quando sentia o cheiro de cigarro em alguém. Fora isto, depois de dois anos sem fumar, também tinha engordado como uma vaca, ou seja, além da irritação, além de estar me sentindo castigada por não poder fumar, minha auto-estima tinha ido para as cucuias, eu não me sentia bem com a minha vida, nem com o meu corpo, nem comigo.

E então houve um dia. Aconteceu algo que me tirou completamente do sério, e quando vi estava com um cigarro na boca. Não me lembro de ter descido para comprar cigarro, eu só lembro de já estar ali, fumando pra me acalmar. Na hora, nem notei, mas depois chorei muito, enquanto fumava mais outro e outro. Anos de luta jogados fora. Depois de ter conseguido ficar 2 anos e tal sem fumar, estava eu ali, fumando de novo. Era uma sensação terrível de fracasso.

Hoje vejo que o que me levou à recaída não foi só o grande problema que tive. Se não fosse aquele problema, seria outro, mais cedo ou mais tarde. No fundo, eu só usei o problema como desculpa para algo que eu já queria fazer. Acho que eu só precisava de uma justificação forte, algo que me redimisse. 

Li algures que 90% das pessoas que param de fumar têm uma recaída, e eu fiz parte dessa estatística. Você continua convivendo com o cigarro, e largá-lo não é só uma situação física, mas sobretudo emocional. Foi assim que percebi que, para parar de fumar novamente, e para ter sucesso neste objetivo, eu tinha que, primeiro, perceber por qual razão eu fumava.

O que te levou a acender o primeiro cigarro?


Acho que nunca é só uma questão de curiosidade, é preciso analisarmos mais além.  Eu, por exemplo, a princípio, apesar de conseguir lidar com os conhecidos, tinha uma enorme dificuldade em lidar com as pessoas estranhas. Além disso, porque sempre tive a "fama" de ser extremamente inteligente, as pessoas em geral só queriam ficar próximas de mim em dia de prova, para poderem copiar minhas respostas. Fora isto, era motivo de escárnio, de chacota. Quando acendi o meu primeiro cigarro, foi numa altura em que tudo acontecia ao mesmo tempo na minha vida, aquela altura em que parece que os problemas todos são despejados na nossa cabeça, aliás, foi antes disso, foi quando eu ainda estava sentindo que tudo ia acontecer, sem ainda saber como mudar o rumo das situações. Aí eu percebi que, enquanto fazia minha fumacinha, pelo menos a cabeça ficava mais tranquila. Antes entretanto eu só fumava escondida, mas quando comecei a fumar na rua - e eu fazia questão de fumar na rua, porque o cigarro dava uma imagem mais adulta, mais madura não, mas mais adulta sim, algo que me tirava do patamar dos bocós da primeira fila da escola e me colocava junto com as pessoas normais, que faziam coisa errada sem se preocuparem em ser caxias, o que lhes conferia um ar quase marginal, rs, pelo menos marginal na minha cabeça de cdf pamonha - percebi também que aumentava a minha sociabilidade, porque as pessoas vinham conversar comigo, quando fumava na porta do colégio, nem que seja para pedir o isqueiro, e era como se, entre os que fumavam, havia uma certa cumplicidade, mesmo quando não conversavam, como se de repente pertencessem ao mesmo grupo ou tivessem o mesmo nível. Babaca pensar isto, mas havia uma aceitação ali, um sentimento de pertencer a algo, como se, ao fumar, eu não fosse recriminada pelos fumadores, enquanto que, ao não fumar, era constantemente recriminada por aqueles que, como eu, não fumavam. 

Alguns anos atrás, quando estive em Londres, fiquei hospedada num hotel e, pela manhã, para fumar o meu cigarro, tinha que descer de elevador e ficar em frente à porta do hotel, tomando um frio gelado no rosto, só para fumar o meu cigarro. Mas para o fumante isto não é problema: dei Good morning para todo mundo no elevador e, quando pensei que ia ser a única a fumar em frente à porta do hotel, afinal encontrei várias pessoas para me fazer companhia. No fundo, o cigarro era também isto, uma companhia, e os fumantes também acabavam por fazer companhia aos outros, uma espécie de solidariedade entre os viciados.

Em Paris, no final do ano passado, quando fui ao Paris Photo com um grupo de fotógrafos, quase senti uma ligeira inveja de ver os fotógrafos fumantes ali, do lado de fora, fumando um cigarro e jogando conversa fora. Incrivelmente, agora que não fumava, já não fazia sentido estar ali com eles, à conversa. É como se houvesse uma cumplicidade apenas entre aqueles que fumam, como se o cigarro fosse o seu ingresso para pertencer a certos clubinhos. Mas agora, felizmente, já não me importava com isto. Há anos que já me resolvi nessa questão, que já não me preocupo com essa coisa de "pertencer".

Com o passar do tempo, tinha continuado a fumar porque simplesmente estava viciada, e porque o cigarro já fazia parte da minha vida e das minhas rotinas. Mesmo quando casei, e apesar de ter casado com um cara que não fumava, não sentia vontade de voltar a deixar de fumar porque, simplesmente, o cigarro me acalmava em momentos de grande pressão. Tinha um casamento que começou errado e que tinha tudo para dar errado - tanto que deu -, ele desempregado, a vida em outro país, os problemas financeiros, era tanta coisa ao mesmo tempo que, o cigarro, era a única coisa que realmente me confortava, e além disso eu pelo menos estava magra, não estava preparada para passar por toda aquela situação novamente, nem tinha uma pessoa ao lado que pudesse ser companheira ao ponto de suportar a tortura que é abandonar um vício, então o mais cômodo foi continuar fumando do que cometer um conjugicídio. Só quando me separei que decidi: iria parar de fumar novamente.

Motivações para deixar de fumar


«Olha que você pode ter um câncer» nunca foi motivação para eu parar de fumar, até porque, a maior parte das pessoas que conheço que tiveram câncer, nunca fumaram, aliás, pessoas que não mereciam - não que alguém mereça uma coisa dessas, né? -, porque sempre tiveram vidas super saudáveis. Aliás, eu pensava muito nisso: uma pessoa se sacrifica, larga as coisas que gosta pra ter uma vida saudável, e depois ó, pode acabar atravessando a rua e ser atropelado, quem vai saber?

Tem cara que diz que, ficar com menina que fuma, é a mesma coisa que lamber cinzeiro. Eu, entretanto, nunca tive problema nenhum pra ficar com qualquer carinha que quisesse, e olha que fumava muito, e não ficava só com cara que fumava não, aliás, a maior parte dos caras que eu ficava eram todos não-fumadores. Ou seja, o medo de ficar encalhada também não era motivação para mim.

Me falavam da parte financeira, do quanto eu economizaria se guardasse o dinheiro que eu gastava em cigarro, mas não é bem assim, para o vício a gente sempre tem dinheiro, aconteça o que acontecer, para juntar a gente nunca tem, kkkkk. Fora que, na verdade, o que a gente faz não é deixar um vício, mas substituir um vício por outro, ou seja, a gente continua gastando dinheiro, e em geral até bem mais do que aquele que gastava com cigarro.

Mas enfim eu lembrei de um bom motivo para deixar de fumar: a preguiça. É que me dava uma preguiça enorme ter que sair para comprar cigarro. Me dava uma raiva absurda quando o cigarro acabava, no meio da noite, e já não tinha mais nenhum lugar aberto para comprá-lo. E eu era tão dependente do cigarro que, quando o cigarro acabava, acabava toda a minha vida também, porque eu não fazia mais nada sem cigarro. Se estava editando um código (como webdesigner), deixava para acabar o código no dia seguinte, porque já não conseguiria me concentrar sem um cigarro na mão, sem um cigarro depois do outro parando dentro do cinzeiro. Se ia jantar, já não jantava porque não ia ter graça jantar sem fumar um cigarro depois. E então tem um bar perto da minha casa, que abre às 6h da manhã, e eu levantava às 6h da manhã, SÓ PARA COMPRAR CIGARRO, e achava um absurdo ter que parar a minha vida toda, só por causa disso. 

Segunda vez que parei de fumar: Champix


Eu sabia que, na segunda vez que parasse de fumar, já não seria tão fácil sem usar nada. Foi aí que me falaram do Champix, e das pessoas que conseguiram parar com sucesso, sem nunca mais voltarem a fumar, e eu quis experimentar.

Você vai fumando normalmente, e tomando o medicamento. Gradualmente, você vai diminuindo o número de cigarros. Na verdade, o próprio medicamento vai criando um certo enjôo do cigarro, e eu queria era justamente isto, parar de fumar sem depender exclusivamente da minha força de vontade, até porque minha motivação podia mudar de um dia para o outro, consoante os problemas do dia-a-dia. Mas não foi só isto: eu senti muito sono, muita irritabilidade, passam até umas idéias meio suicidas na cabeça da gente, mas que a gente sabe que é por causa do remédio, então é só não dar bola para as idéias tortas. Nessa hora, é preciso apoio das pessoas que temos em volta, ou que pelo menos essas pessoas nos deixem um bocadinho em paz, porque a irritação é muito grande mesmo.

Mas é assim: antes passar por isto, mas saber que depois de algumas semanasvocê vai estar livre do vício, do que não parar com isto. O que aconselho é que tomem o remédio nas férias, porque dá sono, muito sono, pelo menos comigo foi assim, eu tinha um sono terrível, e isso foi bom porque o tempo passou e foi criando uma desabituação do cigarro no meu organismo.

Eu acho que vale a pena, apesar de tudo isto. Mais fácil que parar sozinho, sem remédio nenhum, é. Desde então, nunca voltei a fumar, e principalmente, nem a ter vontade de fumar. Porque o pior é isso: a vontade. Não tenho vontade hoje, e mais que isto, as pessoas podem continuar fumando na minha frente, que não me dá mal-estar nem vontade. 

Dessa vez, tomei uma atitude inteligente: assim que parei e fumar, entrei na academia. 



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